Carta a Purezinha

Créditos e fonte: http://www.projetomemoria.art.br/MonteiroLobato/monteirolobato/leia.html

Carta a Purezinha

À sua esposa, Pureza Monteiro Lobato, da prisão política de São Paulo em março de 1941

Purezinha

Só contarei o que é a vida em prisão. É a gente sozinho com o pensamento e nunca o pensamento trabalha tanto. Mas de tanto trabalhar acaba girando num círculo, isto é, volta sempre às mesmas coisas. Os pontos que formam o círculo do nosso pensamento, ou as estações em que o pensamento pára, para pensar sempre a mesma coisa, são – 1º você. Penso em V. com uma ternura imensa e um imenso dó, e culpo-me de um milhão de coisas. Meu dever era só cuidar da tua felicidade, Purezinha, e no entanto passei a vida a te contrariar e a fazer asneiras que tanto nos estragaram a vida. Se eu tivesse ouvido em negócios, minha situação seria hoje de milionário. Não ouvi, nem sequer te consultei, e o resultado foi desastroso. Cheguei até à prisão!

Depois de pensar e repensar em você e de convencer-me que apesar de todas as aparências, e da nossa eterna divergência, é você a única pessoa que eu amo no mundo, pulo para outra estação. Há a estação da Morte, penso na sobrevivência, no Além, em promessas do espiritismo, etc. Penso em Guilherme (filho do escritor falecido aos 24 anos de idade) e Heitor (Heitor de Morais) e acho-os tremendamente felizes por já terem morrido, isto é, feito uma coisa que nós ainda vamos fazer. Depois penso no meu caso – na vingança que os homens de cima que eu insultei hão de querer tirar de mim. Que tolice dar soco em faca de ponta! Espetei a mão a faca ficou no que era. Meu soco não a quebrou.

A vida aqui me tem feito pensa no horror que V. sempre teve pela prisão, pela condenação do homem ao confinamento por anos e anos. Agora vejo como, sem Ter experiência própria, V. adivinhou o certo. Não há castigo maior. Mil vezes a cadeira elétrica ou a forca – dores de um momento.

Estou preso há quase três dias e já me parecem três séculos. As horas têm 60.000 minutos. As noites não têm fim. Sou obrigado a não fazer nada de nada. Não há o que ler – nem jornais. E a incomunicabilidade em que estou, agrava tudo, porque me isola completamente do mundo exterior. Não posso falar com ninguém, nem comunicar-me com ninguém.

Imagine agora o meu prazer quando ontem recebi um pacote. Abri e vi logo você ali – ceroulas, lenços, meias, pijama novo e aspirina. Que presente, Purezinha! Como qualquer coisinha é todo um mundo para quem está sem nada! Repeti mil vezes o teu nome, e hoje de manhã, ao acordar e ver em cima da mesa as coisas, peguei nas meias e beijei-as… Imagine agora a que fica reduzida uma criatura depois de anos de prisão se eu só com dois dias já estou assim.

Foi o primeiro contacto com o mundo externo, esse preente que V. m mandou. Que alegria imensa me causou! Foi o mesmo que receber a tua visita.

Tratam-me muito bem aqui. Os guardas e diretores são pessoas delicadíssimas; que vêm ver-me todos os dias e conversar. Estou num “apartamento” otimozinho, com um banheiro de primeira ordem, com lavatório, bidê, privada e banheiro novinho com água quente. Sou servido no quarto pelo João, um mulato que está preso há já três meses. Cinco refeições, imagine! Para eu que só azia três. Café com leite, pão e manteiga às 7 h. Almoço com seis pratos às 11, chá mate, pão e manteiga às 2. Jantar às 5 e chá à noite. Creio que vou engordar. Mas o que mais me dói é não Ter o que ler, nem o que fazer – eu com tanto trabalho em andamento aí em casa! Quem me dera pilhar a tradução a Gulnara (Gulnara Monteiro Lobato, nora e sobrinha de Monteiro Lobato) para corrigir! E o prebrezinho de Edgard? (Edgar Monteiro Lobato, então doente dos pulmões) Como vai ele? Febre ainda? Como eu prejudiquei aquele menino – como eu prejudiquei a vocês todos, minha cara Purezinha! E agora, no fim de dez anos de lutas, dou de presente a vocês o que meu Deus! A minha prisão – mais amargura para você, mais sofrimento…

O Ernâni, aquele em cuja casa você esteve anteontem mostrou-se muito camarada. Pedi-lhe que telefonasse a você ontem e agora espero-o ansioso para saber se telefonou. Ele entra em serviço às 9 horas, um dia sim, um dia não. São 8. Daqui a uma hora saberei se ele conversou com você. Adues, minha querida, minha cada vez mais querida Purezinha. Um apertadíssimo abraço, e outro em Rute (Rute Monteiro Lobato, filha do escritor) e Edgard. Coragem aí, que cá do meu lado é o que não falta.

Estou escrevendo por escrever, para dar vazão aos sentimentos, porque não há jeito de fazer este papel chegar a você.

Incomunicável! Agora compreendo o horror desta palavra

Juca.

Bisneta de Monteiro Lobato participa de live com educadores da rede

Fonte: https://www.limeira.sp.gov.br/sitenovo/news.php?p=11816

A Biblioteca Pedagógica de Limeira promove na próxima segunda-feira (26) um encontro formativo com Cleo Monteiro Lobato, que é bisneta de Monteiro Lobato. Historiadora formada pela USP, escritora e tradutora, Cleo é filha de Joyce Campos (neta que teve contato com o escritor até os 18 anos) e idealizadora de um projeto que prevê adaptações da obra de Monteiro Lobado aos tempos atuais. Atualmente, Cleo dedica-se à tradução do livro “Reinações de Narizinho”, para o inglês. A iniciativa ocorre das 18h às 19h e integra o conjunto de ações em torno do Dia Nacional do Livro Infantil, celebrado em 18 de abril, em alusão à data nascimento do escritor.

A ação é voltada aos professores da rede municipal de ensino, profissionais da educação e a todas as pessoas interessadas na vida e na obra do autor. E segundo a bibliotecária Taciana Lefcadito Alvares, a ideia é subsidiar e fomentar a literatura infantil, em especial no mês de abril, com a temática voltada a Monteiro Lobato. O encontro será virtual, no formato de live, com transmissão pelo canal da Secretaria de Educação no YouTube.

Monteiro Lobato, o verdadeiro patriotismo militante.

Créditos e fontes: https://www.proust.com.br/

No dia 2 de julho de 1948, Monteiro Lobato concedeu à rádio Record aquela que seria a última entrevista de sua vida, que encerrou com as palavras: “O Petróleo é Nosso”! Dois dias após, “O Repórter Esso”, na voz de Herón Domingues, anunciou a morte de um grande brasileiro, desses que surgem poucos a cada geração: “E agora uma notícia que entristece a todos: acaba de falecer o grande escritor e patriota Monteiro Lobato!”

Monteiro Lobato, nascido em Taubaté em 1882, falecia aos 66 anos de idade; o corpo foi velado na antiga Biblioteca Municipal de São Paulo e em seu cortejo fúnebre, que seguiu a pé até o Cemitério da Consolação, havia mais de dez mil pessoas, que compreendiam que Monteiro Lobato representara, a seu modo, o ímpeto pioneiro, renovador, criador de tantas iniciativas fecundas e ousadas, aventuras pessoais ou coletivas, que formatariam um Brasil moderno.

Advogado sem vocação, seu primeiro emprego foi o de promotor público na cidade de Areias. Depois teve sua experiência como fazendeiro, mas as inovações agropecuárias que realizou demonstraram-se desastrosas; no entanto, “enquanto o fazendeiro se enterra, o escritor se levanta”, diz seu biógrafo Edgard Cavalheiro, porque o melhor “fruto da fazenda” foi o livreto “Urupês” (1918), uma coletânea de quatorze contos, nos quais surge a figura do Jeca Tatu.

O que “Urupês” desencadeou foi quase uma hecatombe na classe média que se expandia no Brasil. Surgia exatamente na contramão do otimismo que o recém reeleito Presidente Rodrigues Alves, o mesmo que higienizara o Rio de Janeiro com mão de ferro em seu primeiro mandato (1902/ 1906). O governo estabelecera o ufanismo nacional como plataforma de governo e, por encomenda, Afonso Celso publicara em prosa e verso o livro “Por que me ufano de meu país”. Por incrível coincidência, Rodrigues Alves morreria antes do final do ano de gripe espanhola contraída no Rio de Janeiro, a mesma gripe que em poucos meses dizimou dezessete mil pessoas somente na capital carioca.

O propósito claro de Lobato em “Urupês” e “Jeca Tatu” foi produzir um conto que fosse um grito de alerta contra o atraso cultural de nosso país, a miséria e o conservadorismo corrupto e corruptor. Se o índio fora o modelo idealizado por muitos escritores românticos do século passado, a figura do caboclo seria seu substituto moderno.

Jeca Tatu representa a miséria e o atraso do homem do interior. Ele é desleixado tanto na aparência quanto na higiene pessoal. Sem educação ou cultura própria, Jeca era ingênuo e repleto de crendices, visto como alcoólatra e preguiçoso. Porém, como afirma Monteiro Lobato, “Jeca Tatu não é assim, ele está assim”, a sociedade o deformou. “Eu ignorava que eras assim, meu caro Jeca, por motivo de doenças tremendas. Está provado que tens nas tripas e no sangue todo um jardim zoológico da pior espécie. É bicharia cruel que te faz papudo, feio, molenga, inerte. Tens culpa disso? Claro que não… És tudo isso sem tirar uma vírgula, mas ainda és a melhor coisa desta terra!”

“Urupês”, além desta personagem trouxe também uma série de inovações linguísticas. Monteiro Lobato estava preocupado em reproduzir nos seus textos a riqueza da fala do homem brasileiro do interior, seus coloquialismos e neologismos. De acordo com a crítica literária, o recurso da oralidade foi a maior ousadia do escritor em Urupês, pois nessa época o uso do português coloquial em obras era visto como algo “inferior” e sem valor literário.

Quando Monteiro Lobato em 1917 escreveu o texto “Mistificação ou paranoia”, criticando os modernistas, não se dera conta de que desde “Urupês” ele era uma clara ponte ligando o passado às convenções estilísticas propostas pelos mesmos que criticava.

De todo modo, Moteiro Lobato desistiu dos experimentos agrícolas, quando o êxito dos primeiros contos sacudiu o homem empreendedor e o levou a investir todas as suas forças e dinheiro no mercado editorial.

No princípio do século, os livros brasileiros eram editados em Paris ou Lisboa; Monteiro Lobato tornou-se editor, passando a produzir livros no Brasil e abrindo possibilidade para diversos autores totalmente desconhecidos do público. “Um país se faz com homens e livros”. “Livro não é gênero de primeira necessidade… é sobremesa; tem que ser posto embaixo do nariz do freguês, para provocar-lhe a gulodice.”

Lobato conseguiu desenvolver um mercado de massa e transformar a indústria editorial em indústria de consumo. Dentro de pouco tempo as edições da Monteiro Lobato e Cia. dominavam nosso mercado livreiro. Seu parque gráfico era o maior da América Latina.

O voo editorial, entretanto, fora alto demais. Sem nenhum apoio governamental, as grandes oficinas gráficas não suportaram a dificuldade de financiamento e a crise energética que se abatia sobre o Brasil e fazia as rotativas pararem. Lobato enfrentou dignamente a falência de sua Editora, em cujos alicerces ele, alguns anos após, plantaria uma nova, os da Companhia Editora Nacional, existente até os dias de hoje.

É depois da primeira experiência com uma editora que ele deixa São Paulo e muda-se para o Rio de Janeiro, onde segue a carreira de escritor. Seguidor de Figueiredo Pimentel, o brilhante autor português de “Contos da Carochinha”, Monteiro Lobato ficou popularmente conhecido pelo conjunto educativo de sua obra infanto-juvenil, que constitui aproximadamente metade da sua produção literária.

Em 1927, Lobato realiza um velho sonho: é nomeado adido comercial nos Estados Unidos. Os quatro anos que passará na América do Norte constituirão uma descoberta e um deslumbramento para o caipira de Taubaté: vê o gigantesco progresso americano e o compara com a nossa lentidão colonial. Ao voltar, trará planos grandiosos de salvação econômica para o Brasil. O primeiro deles é a Campanha do Ferro: é preciso “ferrar o Brasil”. A próxima, ainda mais ampla, será a Campanha do Petróleo.

Nos anos 30 havia interesse oficial em se dizer que no Brasil não havia petróleo, afinal o ouro negro já jorrava espontaneamente no solo do meio oeste norte americano. Monteiro Lobato aliava a literatura e a prédica a atitudes concretas. Na contramão dos interesses dominantes, fundou a Companhia Petróleos do Brasil, e graças à grande facilidade com que foram subscritas suas ações, inaugurou várias empresas para fazer perfuração, sendo a maior de todas elas a Companhia Mato-grossense de Petróleo (em 1938), que visava realizar perfurações quase junto à fronteira com a Bolívia, cujo governo nacionalista já encontrara gás e petróleo.

Em dois livros, “Ferro” (1931) e “O Escândalo do Petróleo” (1936), o escritor documenta os lances dramáticos da duríssima batalha que teve que travar contra a “carneirada” e contra os “moinhos de vento”, movido unicamente pelo afã de prover o Brasil de uma indústria petrolífera independente. O último livro esgotou várias edições em menos de um mês. Aturdido, o governo de Getúlio Vargas, que era acusado de “não perfurar e não deixar que se perfure” proibiu “O Escândalo do Petróleo” e mandou recolher todos os exemplares disponíveis, naquilo que seria o primeiro lance da longa sequência de escândalos envolvendo o petróleo brasileiro, que prosseguem até os dias de hoje.

A empolgação de Lobato fez com que ele percorresse todo o país em busca de apoios; a guerra que lhe moveram os governantes, os burocratas e os sabotadores dos interesses pátrios, terminou por deixá-lo pobre, doente e desgostoso. Em 1941, depois de enviar outra carta a Vargas, acusando-o de má conduta na política brasileira de minérios, acabou preso. No Presídio Tiradentes foi confinado por quase quatro meses, na mesma cela do Pavilhão 1, pela qual passariam tantos presos da ditadura militar de 1964.

Na cadeia manteve-se altivo e escreveu ao general Horta Barbosa, comandante do Conselho Nacional do Petróleo, responsável por seu encarceramento, agradecendo “os deliciosos dias passados na Casa de Detenção”, que lhe permitiram “meditar sobre o livro de Walter Piktin, ‘A short introduction to the history of Human Stupidy'”.

O certo é que com admirável sentido de luta, Monteiro Lobato conseguiu sacudir o Brasil de alto a baixo, apontando ao povo brasileiro os caminhos de sua emancipação econômica, bandeiras de lutas que se aprofundariam após a sua morte e que redundariam na fundação da Petrobras, empresa criada em 1953, na fase populista do então presidente Getúlio Vargas, impulsionada pela campanha popular iniciada em 1946 por Lobato, sob o slogan de “O petróleo é nosso”.

Voltemos ao Monteiro Lobato, o grande escritor da maior parte das histórias infantis nacionais. “A menina do narizinho arrebitado”, com edição inicial de cinquenta mil exemplares ocorreu no ano de 1921; nela Lobato introduziu o elenco de crianças e bonecos do Sítio do Pica Pau Amarelo. A seguir outras tão importantes ou mais foram: “Reinações de Narizinho” (1931), “Caçadas de Pedrinho” (1933) e “O sítio do pica-pau amarelo” (1939).

Lobato criou personagens inesquecíveis, que se incorporaram para sempre ao folclore brasileiro. Emília, a boneca de pano falante com sentimento e ideias independentes; Pedrinho, personagem com que o autor se identificava quando criança; Visconde de Sabugosa, a espiga de milho com consciência e atitudes de adulto; Cuca, a vilã.

A figura folclórica do Saci Pererê encontrou sua maior divulgação no autor de “Reinações de Narizinho”.

Lobato também acreditava que era chegada a hora de nos libertarmos da influência de Portugal e desenvolvermos uma linguagem brasileira. Nas suas adaptações infantis ele emprega uma linguagem coloquial e simplificada. Quase dez anos após, em 1928, o modernista Oswald de Andrade, no “Manifesto Antropofágico” apresentou a imagem do canibal brasileiro que devora o inimigo para apropriar-se de sua alma. “Assim como o canibal, o escritor brasileiro não deve absorver passivamente as influências estrangeiras, mas transformá-las em algo novo, abrasileirado, a la Monteiro Lobato”.

“Nós usamos a linguagem o mais simplificada possível, como a de Machado de Assis que é nosso grande mestre.”

Em “Don Quixote para crianças”, por exemplo, Emília, a boneca de pano, um dos álter egos do escritor, retira da estante o pesado Don Quixote que Dona Benta passa a ler para as crianças, netos e bonecos, nos famosos “Serões de Dona Benta”. Emília, depois de ouvi-la falar em lança em cabido, adargar, etc., perde o interesse e decide brincar. Então Dona Benta resolve contar a história de Cervantes com suas próprias palavras e quando Pedrinho, no final, pergunta se contara a história inteira, a avó diz que toda a história era apenas para os adultos. “Temos que abrasileirar a linguagem, tornando a literatura desejada pela nossa infância”.

“Os doze trabalhos de Hércules” concluem os trinta e nove livros infanto-juvenis e quase um milhão de exemplares em circulação. Através das viagens que os personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo empreendem com Hércules, Lobato conta os trabalhos de humanização realizados pelo maior dos heróis gregos, como também os principais e mais belos trechos da mitologia grega, em linguagem apropriada para crianças, mas com riqueza de detalhes raramente encontrada em outros livros de adaptações mitológicas.

Lobato, em sua época, foi o escritor mais traduzido para línguas estrangeiras como o francês, italiano, inglês, alemão, espanhol, japonês, árabe e iídiche.

Em 1926, Lobato concorreu a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, mas acabou derrotado. Tal qual ocorrera anos antes com Lima Barreto, era a segunda vez que isso sucedia. Na primeira vez, em 1921, Lobato desistiu antes da eleição, por não querer fazer as visitas de praxe aos acadêmicos para pedir votos. Na segunda vez, concorria à vaga de um jurista. Na primeira, recebera um voto no terceiro escrutínio, e, na segunda, dois votos, idêntica votação recebida anos antes por Lima Barreto.

Anticlerical por excelência, Monteiro Lobato sofreu crítica, censura e perseguição por parte da Igreja Católica. O influente padre Sales Brasil, na primeira fila do reacionarismo da guerra fria, denunciou o livro “História do Mundo Para Criança” como sendo o “comunismo para crianças”. Muitos exemplares do livro foram queimados por clérigos e autoridades Brasil afora. Por ordem do governo Getúlio Vargas, a adaptação infantil de Peter Pan foi aprendida pelo DOPS em todo o Estado de São Paulo.

Lobato também provocou outros tipos de polêmicas. Quando publicou “Paranoia ou Mistificação”, a crítica desfavorável à exposição de pintura de Anita Malfatti (na Semana de Arte Moderna de 1922), muitos modernistas passaram a taxá-lo de reacionário, com a notável exceção de Mário de Andrade. Na realidade, a crítica de Lobato era direcionada aos “ismos europeus”: cubismo, futurismo, dadaísmo, surrealismo, que ele denominava de “colonialismos”, “europeizações”, da mesma raiz do “academicismo da geração anterior”. Lobato era a favor de uma arte autenticamente brasileira, autóctone e nisso, como já o dissemos, ele mesmo era uma ponte para o moderno.

É bem verdade que a obra literária de Lobato da década de vinte, continha preconceitos raciais e eugênicos. Ele acreditava que a miscigenação fora um fator prejudicial na formação do povo brasileiro. Em seu livro, “O Presidente Negro” (1926), descreve um conflito racial de um tempo futuro (ano de 2.228), após a eleição de um negro para a presidência dos EUA, com consequências desastrosas advinda do cheque de raças, quase um século antes da eleição de Obama.

Posteriormente, com sua aproximação do socialismo, essa faceta “eugênica” e preconceituosa se desfaria. Relata seu biógrafo, Cavalheiro, que “ele ansiava por um socialismo difuso, meio anárquico, meio romântico”. “Não possuía, entretanto, nenhum gosto pela especulação doutrinária e por isso, jamais foi homem de partido, militante político”.

Seu contato maior com os comunistas ocorreria a partir de 1941, após o período de confinamento no Presídio Tiradentes, durante a ditadura de Vargas. Empolgou-se com a luta antinazista na Segunda Guerra Mundial. Jamais escondeu sua admiração e estima por Luiz Carlos Prestes e o fazia de modo aberto, a quem lhe perguntasse. Em 1945, no famoso comício do Pacaembu, enviou a Prestes uma das mais lindas e humanas saudações.

Quando, em 1947, levanta-se uma nova onda de perseguições políticas, de sua pena nascerá a história de “Zé Brasil”, panfleto que percorreu o país de norte a sul, acusando o Presidente Dutra de implantar no Brasil uma nova ditadura: o “Estado Novíssimo”.

Sua visão sobre a problemática social ele a resumiria, já sexagenário, da seguinte maneira: “A nossa ordem social é um enorme canteiro em que as classes privilegiadas são as flores e a imensa massa da maioria é apenas o esterco que engorda essas flores. Esterco doloroso e gemebundo. Nasci na classe privilegiada e nela vivi até hoje, mas o que vi da miséria silenciosa nos campos e nas cidades me força a repudiar uma ordem social que está contente com isso e arma-se até com armas celestes contra qualquer mudança.”

Monteiro Lobato foi um dos homens mais íntegros e corajosos que já viveram neste país, um intelectual “à moda antiga”, daqueles que, passados quase um século, nossa pobreza ética e intelectual ainda se ressente da falta.

Bibliografia:

1. Lobato M. Urupês. Ed. Brasiliense, 1971.

2. Lobato, M. O Presidente Negro ou O Choque das Raças: Romance Americano do Ano 2228. Ed. Brasiliense, 1964.

3. Pereira, Astrojilgo. Crítica Impura. Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 1963.

4. Lobato, M. Obras Completas, Ed. Brasiliense, 1959.

5. Schuacz, L.M. e Starling, H. Brasil: Uma Biografia. Brasil, Companhia das Letras, 2013.

Live Especial: “Monteiro Lobato, ontem, hoje e sempre”

Fonte: https://guiataubate.com.br/agenda/live-monteiro-lobato

 

Sobre o Evento

 

No reino do Taubaté Shopping Center será realizada live especial “Monteiro Lobato, ontem, hoje e sempre”

A live acontece pela plataforma do instagram @taubateshopping às 17h, do dia 24 de abril  e contará com interpretação em Libras. Em um primeiro momento a criançada participará online  com a Tia Gih da Oficina “Como fazer o Pó de Pirlimpimpim?”, em duas versões, uma delas comestível inclusive.

A dica é se preparar para a live, com traje ou maquiagem dos personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo, ou quem sabe trazer para a live um bom sabugo de milho, ou a boneca Emília, mas um bom livro do autor também é uma ideia muito borbulhante.

No segundo bloco, acontece um bate papo descontraído com a Cleo Monteiro Lobato, que lançou recentemente sua versão da obra “Reinações de Narizinho”, que é a obra mais literária do Lobato. Obra bilíngüe, adaptada e contém também uma versão em inglês. As ilustrações cheias de cor, meiguice e vida são do Rafael Sam.

Cleo afirma que pretende re-energizar o legado do seu bisavô e levar sua obra infantil para os EUA. E pasmem a Tia Nastácia tem turbante, saiu da cozinha e agora também compartilha a vida na sala de estar.

Estamos em contagem regressiva para esta live que promete muitas reinações

A live é recomendada para educadores, mães, pais, crianças, jovens e aos apaixonados pela obra de Monteiro Lobato, para maiores informações, entrar em contato via whatsapp (12) 99199 3946.

Manda chamar o Brecheret! Por Antonio Silvio Lefèvre

MANDA CHAMAR O BRECHERET!

ANTONIO SILVIO LEFÈVRE

Sobre a primeira e até agora inédita escultura de Monteiro Lobato

Era um tranquilo domingo, 4 de julho de 1948, quando, ligando o rádio pela manhã, meu pai, o médico Antonio Branco Lefèvre, ouve a notícia que menos desejaria ouvir:  a de que seu amigo e também paciente, o escritor Monteiro Lobato, havia falecido naquela madrugada.

Sim, embora meu pai fosse um neuropediatra, havia sido chamado algumas vezes para examinar Lobato juntamente com outros médicos pois, há alguns anos já, seu quadro de saúde era complexo e tinha componentes neurológicos, tanto que acabou morrendo de um derrame cerebral.

Indo direto para o velório, que foi instalado na Biblioteca Municipal de São Paulo, lá encontrou grande número de amigos próximos seus e de Lobato, como Caio Prado Junior, o dono da Editora Brasiliense, que editara as obras completas de Lobato, toda a turma da revista Clima… Antonio Cândido, Décio de Almeida Prado, Paulo Emílio Sales Gomes, Alfredo Mesquita, Lourival Gomes Machado.  E também o casal Tatiana Belinky e Julio Gouveia que mais tarde lançariam o Sítio do Picapau Amarelo na TV e muitos outros.  Entre eles Artur Neves, que havia sido sócio de Lobato nas suas primeiras iniciativas como editor, além de escritor.

E enquanto vários dos presentes discursavam enaltecendo o legado de Lobato e lamentando sua morte, de repente alguém observou que, por mais famoso que já fosse o escritor, era estranho que não  houvesse estátua ou busto dele em lugar nenhum.  Foi quando Artur Neves, impressionado com a lembrança, exclamou: “Manda chamar já o Brecheret!”.

Aquele que já era o mais famoso escultor brasileiro de então e que depois se tornaria “imortal” com o Monumento aos Bandeirantes no Parque do Ibirapuera, em São Paulo (apelidado jocosamente de “não me empurra…”), apareceu pouco depois no velório e com muita destreza e rapidez, para não perturbar a cerimônia, aplicou  uma massa no rosto do falecido e tirou dele um molde. Que alguns dias depois se transformou num busto ou máscara mortuária em bronze, a primeira escultura de Monteiro Lobato, criada no dia da sua morte.

Confiada por Brecheret a Artur Neves, em homenagem à sua amizade com Lobato, esta obra histórica  está hoje sob a guarda da filha de Artur, Marcia Neves Bodanzky, esposa do cineasta Jorge Bodanzky, não por coincidência meu mais velho amigo.

Sim, pois as coincidências não faltam neste universo lobatiano, já que, em minha geração, somos todos “filhos de Lobato”, como tão bem descreve o meu também amigo José Roberto Whitaker Penteado, ex Presidente da ESPM, em seu livro com esse título.

Todos os presentes naquele velório e pelo menos a geração seguinte, da qual eu faço parte, tiveram forte ligação com Lobato e sua obra. Dois anos depois, em 1950, Artur Neves foi o produtor e roteirista de um filme pioneiro baseado no livro de Lobato “O Saci”, pequena obra-prima que lançou Alex Viani, Nelson Pereira dos Santos e tantos outros jovens no âmbito do cinema. Com trilha musical do Cláudio Santoro, fotografia de Ruy Santos e por aí vai. E a produtora deste filme foi a Cinematográfica Maristela, inaugurada neste ano e  cujo sócio e presidente era meu avô materno, Benjamin Fineberg.

E seis anos depois, em 1954, eis que Tatiana Belinky, que iniciara o Sítio do Picapau Amarelo na TV Tupi, escolhe este articulista, filho do amigo Lefèvre, para interpretar o Pedrinho na série. Sim, porque não havia artistas crianças disponíveis naquela época e o casal  ia escolhendo seus protagonistas entre os filhos dos amigos que eram treinados no TESP (Teatro Escola São Paulo) que haviam criado com esta finalidade em 1949, exatamente um ano após a morte de Lobato.  Só para o personagem da boneca Emília é que não foi possível encontrar um intérprete infantil, tão difícil era o papel…  e assim ele foi confiado a uma profissional de teatro que fez história na TV de então, Lucia Lambertini.

Em julho de 2018, 70 anos depois do falecimento de Lobato, sua obra entrou em domínio público e deve ser reeditada e divulgada por várias editoras, na esperança de que novas gerações venham a apreciá-la, como a minha.  Assim, 2019 tem tudo para ser um “Ano Lobato”.

Neste contexto me ocorreu faria todo sentido que este busto inédito de Lobato por Brecheret estivesse exposto num museu ou local público importante, onde todos pudessem apreciá-lo.  Imaginei-o, por exemplo, no hall de entrada do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, que está sendo reconstruído.  Pois muito embora o acervo deste museu seja em grande parte digital, se há algo que mereceria estar lá fisicamente, em bronze, é justamente este grande escritor brasileiro do século XX que foi Monteiro Lobato.

Em tempo: neste “Ano Lobato” devemos uma homenagem especial a minha querida diretora Tatiana Belinky, cujo centenário de nascimento comemoramos  em março último. E eu, pessoalmente, cada vez que penso nela me lembro, saudoso, do seu filho André Belinky de Gouveia, grande amigo meu na adolescência e que foi também ator, como eu, tendo morrido muito jovem num acidente de moto na França. Um “filho de Lobato” a menos na nossa geração.

Celebre o Dia Mundial da Criatividade!

De sua incrível imaginação, surgiram os personagens mais marcantes e inesquecíveis: a Emília – uma boneca falante, a Cuca – uma espécie de bruxa com cabeça de jacaré, o Visconde de Sabugosa – uma espiga de milho intelectual. Até mesmo a Mula sem Cabeça e o Saci Pererê fazem parte de suas histórias!!! 🧡

Graças a sua imaginação repleta de magia, Lobato conseguia pensar como uma criança na primeira infância e através de suas obras, descrevia os universos fantásticos onde coisas incríveis acontecem e os limites eram ditados apenas pela capacidade quase infinita que ele tinha de imaginar.

Na sua imaginação, boneca de pano era gente, espiga de milho era gente e o pó de pirlimpimpim fazia as pessoas viverem aventuras fantásticas.

E no Dia Mundial da Criatividade, não falar de Lobato é quase que impossível.

Inspire-se na criatividade lobatiana e encontre a sua coragem de tirar as suas ideias da cachola!

Dia do livro infantil com Cleo Lobato

Especial Semana Monteiro Lobato no Dicas de Roberth – Dia 18/04/2021

Fonte: Dia do livro infantil com Cleo Lobato – O Maringá (omaringa.com.br)

Eu basicamente li todos os livros infantis e a maioria da coleção adulta. Em casa minha família era contra ter televisão. Então custei muito a ter o hábito de ver TV. Quase não assisti ao Sítio da televisão, nenhuma das séries… pois além de não ter o hábito, nessa altura já estava fazendo faculdade, namorando e casando. Mesmo assim minhas personagens preferidas das séries de TV são a Emília e a Cuca.

Agora dos livros eu sempre fui fã do Hércules! Sempre adorei mitologia Grega. Fomos a Grécia duas vezes! Visitei o palácio do Rei Minos.
O que mais me impressionava na obra de Lobato quando eu era criança era como era divertido aprender! Imagina que eu li até Aritmética da Emília e Emília no País da Gramática e achei maravilhoso! Hoje em dia me impressiona como Lobato trata de situações complexas e difíceis nos seus livros que são “infantis”. Por exemplo em Reinações de Narizinho, Emília fala sobre morte, ou melhor o “assassinato” da vespa pela Narizinho. Assassinato este não intencional (Narizinho mordeu a jabuticaba e matou a vespa) mas mesmo assim a vespa sofreu (Emília descreve detalhadamente o sofrimento da vespa) e morreu…olha que assunto complicado! Que oportunidade para se iniciar uma conversa sobre o que é morrer (tem toda uma longa descrição do enterro da vespa) e se existe matar alguém sem intenção…

Esse último ano, com a pandemia, tem sido muito difícil. Estava acostumada a viajar para o Brasil e ver minha mãe a cada três meses, mas agora já faz um ano inteiro que não a vejo. O interessante é que a pandemia impulsionou a minha presença virtual e o meu trabalho com Monteiro Lobato. Antes era complicado eu não estar fisicamente no Brasil, mas durante este ano tudo passou a ser virtual. Pude até organizar um evento virtual de três dias de duração com mais de 700 inscritos celebrando o primeiro livro infantil de Monteiro Lobato – A Menina do Narizinho Arrebitado – que aconteceu em Dezembro do ano passado.
Tivemos nove mesas redondas com os principais estudiosos de Lobato, falando de tradução, da influência de Lobato e mil outras coisas. Se quiserem ver está tudo disponível no YouTube Lobatocomvc e no site www.Natrizinho100anos.com

Há anos que penso em trazer Monteiro Lobato para os EUA mas este pais é muito insular e eu tinha dúvidas se os Americanos se interessariam em ler Lobato, mesmo ele sendo tão importante no Brasil. Curiosamente o que descobri é que existe um contingente muito grande de Brasileiros imigrantes igual a mim que estão criando filhos bilingues (ou estão tentando) e querem Lobato em Português nos EUA. Inversamente também descobri que existem Brasileiros no Brasil, criando filhos bilingues e querendo Lobato em Inglês!

Após descobrir meu público foi que eu iniciei esse processo de adaptação e tradução da primeira história do livro Reinações de Narizinho que se chama Narizinho Arrebitado-livro 1 e saiu em Dezembro de 2020.
Ao se traduzir um livro necessariamente a obra passa por uma adaptação, pois está havendo uma transposição de uma cultura para outra cultura. Esse processo de tradução junto com a minha vivência de 23 anos aqui nos EUA e o fato de ter conhecido minha editora, Nereide Santa Rosa (outra brasileira que emigrou para os EUA) foi o que me impulsionou a fazer a adaptação em português e lançar Monteiro Lobato nos EUA e no Brasil em Inglês e Português e com ilustrações novas.

Na adaptação que fizemos, Tia Nastácia ganhou nova roupagem, não só externa, mas também interna. Esse foi o único ponto da obra de Lobato que eu e minha editora decidimos que era necessário modificar. Decidimos que Tia Nastácia, o único personagem afro-descendente além do Saci e o Tio Barnabé, na obra de Lobato, precisava ser atualizada para que os livros do meu bisavô continuassem a dialogar com o mundo atual. Também para que seus livros continuassem a ser lidos pelas crianças de hoje e continuassem a criar leitores pensantes como fazem há 100 anos. Tia Nastácia original não reflete mais o papel do negro na sociedade Brasileira. Já se foi o tempo em que na TV, nas novelas, só havia espaço para atores negros representarem empregada/os. Mesmo na adaptação da televisão da TV Globo Tia Nastácia ainda era a ex-escrava, empregada que cozinhava bem e ajudou D. Benta a criar Narizinho. Na adaptação que fizemos alteramos Tia Nastácia para o presente onde ela é amiga de infância de D. Benta e mantivemos todo o resto: quituteira, a pessoa que simboliza o conhecimento do folclore brasileiro, a pessoa que dá colo e amor quando as crianças se machucam…eu acho que essa modificação reflete a evolução da sociedade Brasileira.

Nossa Tia Nastácia também tomou uma injeção de orgulho no visual que o ilustrador Rafael Sam, do Recife criou para ela. Tem sido fundamental a participação do Rafael Sam com as novas ilustrações para criarmos a nova Tia Nastácia que tem orgulho das suas origens africanas. Os livros de Lobato se passam num universo de fantasia que retrata o interior do Vale do Paraíba no período após a abolição da escravidão. Agora com a adaptação que fizemos esse universo fantástico passa a existir num nível atemporal onde os personagens do Sítio vivem suas aventuras, interagem com o mundo e aprendem sobre a vida.
Na adaptação que fizemos colocamos um prefácio explicativo além de um glossário com definições das palavras em desuso. Acho importante para os leitores saberem que houve escravidão no Brasil, que o sistema capitalista do Brasil colônia e do Brasil Império foram baseados no trabalho escravo e que essas condições sócio-econômicas evoluíram até os dias de hoje. Apesar de grandes conquistas em todos os níveis ainda é necessário mais progresso para se ter um Brasil com maior igualdade socio econômica para todos.
O que mais me fascina na biografia do meu bisavô era sua capacidade de sonhar grande e de sempre rever suas opiniões. É absolutamente inacreditável como Lobato, ao herdar a fazenda São José do seu avô, o Visconde, parte para modernizar o sistema de plantio e colheita. Minha bisavó, Purezinha tratava dos colonos com homeopatia! É de conhecimento de todos que Lobato ficou horrorizado com a apatia do colono e escreveu Jeca Tatu. Depois foi pesquisar as causas da tal apatia e descobriu que a culpa não era do Jeca, mas sim da verminose que sugava o Jeca e o deixava assim! Então, não contente em somente denunciar a situação ele se alia a Candido Fontoura, criador do Biotônico Fontoura e cria a maior campanha publicitária para resolver o problema da verminose do homem do campo! Lobato parece não ter a noção desses limites, e achar que pode resolver o problema de todos e do Brasil…depois foi a vez de Petróleo e ferro. Ele realmente se esforçava para resolver os problemas do Brasil – e pensava sempre nesses termos monumentais e ia atrás com uma perseverança, energia e tenacidade incríveis!

Eu acredito, igual Lobato, que um país se faz com homens e livros, mas também professores bem pagos.. É fundamental termos pessoas que saibam ler, entender e discutir situações complexas. E isso só se consegue com um bom sistema de ensino onde o professor seja valorizado e bem pago para poder fazer seu trabalho de formação dos alunos.
Narizinho Arrebitado-livro 1 está disponível no Amazon.

Dicas de Roberth em parceria com Mundo Geek e O Maringá agradecem por fazer deste dia muito mais especial com leitura e esperança para todo o povo brasileiro.

Viva Monteiro Lobato! Viva o livro infantil em todo lar de nosso Brasil!

Monteiro Lobato: da morte às origens. Por Antonio Silvio Lefèvre

Autor: Silvio Lefèvre

Créditos e fontes: https://www.chumbogordo.com.br/34725-monteiro-lobato-da-morte-as-origens-por-antonio-silvio-lefevre/

(O judeu Monteiro Lobato, aprendendo a ler e escrever com meu pai…)

ANTONIO SILVIO LEFÈVRE 

Desde o final de 2018, 70 anos depois da morte de Lobato, quando sua obra entrou em domínio público, eu, como intérprete do Pedrinho na primeira versão do Sítio do Picapau Amarelo (TV Tupi, 1954) fui chamado a participar de muitas conferências, debates e “lives” sobre sua vida e sua obra.

Por mais que já se tenha escrito e debatido sobre Lobato e sua obra, sempre pude revelar fatos inéditos, que o convívio intenso com a herança cultural lobatiana desde a minha infância me trouxe a ventura de conhecer.

Aqui mesmo, no Chumbo Gordo, contei o que aconteceu no dia mesmo da morte de Lobato (4 de julho de 1948) quando, no velório, seu sócio, Artur Neves gritou “Manda chamar o Brecheret!” para que o já famoso artista tirasse um molde do rosto de Lobato para esculpir uma máscara mortuária.

Mais recentemente, a amiga Márcia Neves Bodanzky, esposa do amigo cineasta Jorge Bodanzky e filha do Artur Neves, passou a mim uma descoberta de arrepiar… um exemplar até então soterrado da edição especial da revista Fundamentos, da Editora Brasiliense, publicada em setembro de 1948 e totalmente dedicada à memória de Lobato, recém-falecido. E eis que, entre os artigos de muitos famosos, deparo com um de meu pai, o médico neurologista Antonio Branco Lefèvre, com o título “Lobato diante da morte”. E nele meu pai relata o que ocorreu num atendimento a Lobato, logo após ele ter tido um pequeno AVC.

«Quando foi que morri?», perguntou Lobato


«Quando foi que morri?», perguntou Lobato calmamente, imaginando que já estivesse em outro mundo. Prosseguindo o exame do paciente, meu pai verificou que embora ele estivesse bastante fluente na fala, simplesmente não conseguia ler nem escrever nenhuma palavra!

E meu pai explica no artigo: “Tratava-se de uma sequela que é bastante rara na patologia neurológica: uma alexía, sem o menor componente afásico, apresentando, entretanto, uma agrafia bem nítida. Estranha esta coincidência. Um cérebro como o de Lobato atingido exclusivamente em duas funções que eram nele tão extraordinariamente desenvolvidas: a leitura e a escrita”.

E sobre a reação de Lobato, comentou: “Tudo isto pode levar a crer que fosse enorme seu desespero em face desta situação. Poucas vezes entretanto o encontrei irritado com sua moléstia. É verdade que a recuperação foi se fazendo tão rapidamente, que o doente, sentindo os seus progressos diários, sabia que a cura estava próxima, como de fato se deu em duas semanas, aproximadamente.”
Já nos primeiros dias, em que meu pai fazia exercícios para ensinar Lobato a ler e a escrever, o aluno, jocosamente lhe perguntou: Quando é que vou passar para o segundo ano?”

Infelizmente, quando Lobato teve um segundo AVC este o fulminou instantaneamente. “Quando cheguei à sua casa naquela fria madrugada de domingo, ele já estava morto, com uma estranha expressão de calma e serenidade na face”, escreveu meu pai.

Da morte às origens de Lobato

MONTEIRO LOBATO

Além de tudo o que me foi perguntado sobre Lobato nas conferências e debates, que se estenderam até agora, na celebração dos 70anos da TV no Brasil, em que foram relembradas as várias apresentações do Sítio do Picapau na TV, desde a primeira, da qual participei, houve uma que me levou ao extremo oposto da sua morte…a busca das suas origens familiares.

Tudo começou com uma conversa minha com sua bisneta, Cleo, que vive atualmente nos Estados Unidos e de lá administra um site criado para a memória de seu bisavô, o www.monteirolobato.com

Cleo é filha de Joyce, neta de Lobato, por sua vez filha de Martha, uma das duas filhas mulheres de José Bento Monteiro Lobato, como era seu nome completo. Formada em História pela USP, Cleo se interessa muito pelas origens da família e me relatou que sua mãe, Joyce,  lhe disse ter o sentimento de que a família era de cristãos-novos, ou seja, de judeus conversos para escapar da Inquisição. Possivelmente essa curiosidade pelo lado judaico tenha sido estimulada pelo fato de Joyce ter-se casado com um judeu polonês, Jerzy Matheusz Kornbluh, pai de Cleo.

Quando lembrei Cleo que minha sogra, Anita Novinsky, que havia sido sua professora na História da USP, é a maior especialista no tema da Inquisição e dos cristãos-novos no Brasil, ela ficou muito entusiasmada e de pronto me mandou uma árvore genealógica da família Lobato, elaborada por uma equipe da UNICAMP, sob a direção da Marisa Lajolo, renomada estudiosa da obra de Lobato. E me mandou também um pequeno tesouro, que é o “Caderno de Dona Purezinha”, em que a dedicada esposa de Lobato faz revelações extraordinárias sobre a vida e obra do marido, mas também muitas sobre as origens da família.

Pois bem. Não foram necessários estudos históricos aprofundados para que Anita me assegurasse que, sem dúvida alguma, a família toda de Lobato é de cristãos-novos, portanto judeus convertidos. Já numa simples análise das últimas gerações lobatianas, observou que José Bento Monteiro Lobato tinha duas irmãs com prenomes tipicamente judaicos: Esther e Judith. E ele mesmo deu nomes judaicos para suas duas filhas: Ruth e Martha (mãe da Joyce)

Ora, é sabido que esses nomes não vêm por acaso… sendo evidente que tanto o pai de Lobato, como ele mesmo, os tinham no seu inconsciente cultural.

Os ancestrais cristãos-novos de Lobato

MONTEIRO LOBATO

E quando lembrei a Anita que a família de Lobato havia se estabelecido em Taubaté o diagnóstico, então, foi fulminante pois, segundo, ela, Taubaté foi um dos mais importantes locais de partida dos bandeirantes para todo o Brasil. E, sabidamente, os bandeirantes eram em sua quase totalidade cristãos-novos, alguns como Raposo Tavares, com ancestrais queimados pela Inquisição e que, por isso mesmo, nutriam um ódio figadal contra os jesuítas, que combateram na “Guerra das Missões’”

“Monteiro Lobato era descendente dos primeiros fundadores de Taubaté, Pinda, e Paraibuna, gente que teve desbravadores do sertão e sempre as rédeas do Governo que se difundiu pelo seus descendentes,”, escreveu Purezinha no seu diário. Tanto que entre os nomes que aparecem na genealogia da família Lobato está o do bandeirante Pedroso Alvarenga. Sobre Luiz da Costa Cabral, um ancestral dos Lobato, Purezinha conta que “ em companhia de Borba Gato, foram portadores de valiosos presentes à D. João IV”

Voltando mais atrás na história encontrei um ancestral Lobato que ficou famoso por ter renegado a conversão forçada ao catolicismo e voltado às raízes judaicas. Segundo relata Meyer Kayserling em seu clássico “História dos judeus em Portugal”, Diogo Gomes Lobato (prenome original Abrão Cohen) tinha um primo, Paulo de Pina, que pretendia se tornar monge e que Diogo aconselhou fortemente a não fazê-lo e voltar à religião materna. “Pina viajou com seu parente Lobato para o Brasil e de lá para Amsterdão, onde se tornou fiel adepto do judaísmo”

Ficando mais do que claras as origens judaicas dos Lobato pesquisei eventuais referências do próprio Lobato a este fato. Nada encontrei nos seus textos em relação às origens mas sim muitas referências aos judeus. Sempre muito eloquentes em termos de admiração e respeito.

Lobato e os judeus

Numa entrevista concedida ao jornalista Nelson Vainer nos anos 40, ainda durante a guerra, Lobato dá um depoimento que merece ter um trecho reproduzido por sua expressividade e, incrível, por sua grande atualidade:

“O maior drama da História temo-lo na vida dos judeus, a raça que, como disse Heine, criou para si mesma uma ‘pátria portátil’ e talvez por essa razão se tornasse indestrutível – e tão perseguida pelas raças de pátria fixa. Várias circunstâncias tornaram o judeu um povo à parte e eterno aluno da Escola da Adversidade. E se o cursar essa escola durante séculos traz realmente superioridade, o povo judeu tem razão no alto juízo que faz de si mesmo, porque nenhum outro fez na escola terrível curso tão longo. Daí o aparentemente estranho fenômeno de um povo tão pequeno em número ter produzido grandes homens e grandes coisas em proporção tremendamente superior à dos demais povos, a ponto de tornar-se um eterno “caso” no mundo”.

O que mais é preciso para sabermos que Lobato, além de ser judeu pela origem, se sentia também como um judeu e fazia um discurso próximo do sionismo?

Fiquei curioso apenas por saber o que Lobato sentiu quando, exatamente dois meses antes da sua morte, em 14 de maio de 1948, era fundado o Estado de Israel e os judeus não precisaram mais ser “portáteis”.

O mundo encantado de Monteiro Lobato

Sua primeira história, “A menina do narizinho arrebitado”, depois intitulada “Reinações de Narizinho”, foi publicada em 1920. O sucesso foi tão grande que ele não parou mais. Depois deste livro inicial, criou outros,  imortalizando os personagens que viviam num lugar mágico chamado Sítio do Pica-Pau amarelo.

As histórias se passavam neste sítio de Dona Benta, avó de Narizinho e Pedrinho, e a estes se juntavam Tia Nastácia – que fazia deliciosos bolinhos de chuva; Tio Barnabé – o velho contador de causos; a dupla engraçada de trabalhadores rurais: Zé Carneiro e Pedro Malazarte; e os famosos Emília, a boneca de pano, teimosa e engraçada; Visconde de Sabugosa, o sabugo de milho que tinha virado gente e era  dono de uma admirável inteligência; o Marquês de Rabicó, porquinho que vivia às voltas com a boneca falante em suas brincadeiras mirabolantes.  Às vezes apareciam no Sítio personagens das lendas brasileiras, como o Saci e a Cuca; e outros da literatura universal, como Hércules e certos mitos gregos. Dona Benta, grande contadora de histórias, podia entreter os meninos durante horas, narrando para eles a História das Invenções. Ou  então era Emília que se aventurava com seus companheiros pelo País da Gramática. Tudo muito divertido.

Desde o início os livros foram ilustrados. Quem fez os primeiros desenhos foi um amigo de Lobato chamado Voltolino, que era caricaturista. A caricatura é um desenho onde os traços são bem fortes. Hoje há edições belíssimas de todos os livros. Se você ainda não leu um deles, comece já!

Monteiro Lobato morreu em 4 de julho de 1948. Morreu, não! Como Emília  gostaria  de dizer, transformou-se em “gás inteligente”.

Seis livros que toda criança deve ler

Reinações de Narizinho: Neste livro Lúcia, mais conhecida como Narizinho, visita o Reino das Águas Claras, levando a tiracolo sua boneca de pano, Emília. Com a chegada de Pedrinho, o primo da menina do nariz arrebitado, que veio de São Paulo passar as férias no Sítio do Picapau Amarelo, tudo fica mais divertido.

As Caçadas de Pedrinho : Uma onça pintada anda rondando o Sítio do Picapau Amarelo, lá para os lados do Capoeirão de Taquaraçus. E Pedrinho resolve montar uma verdadeira expedição para sair em sua busca. Claro, sem contar para Dona Benta ou Tia Nastácia. Muitas aventuras e um novo personagem para o Sítio: o rinoceronte Quindim.

O Saci: Pedrinho ganha um novo amigo para suas aventuras. Ele tem só uma perna, fuma cachimbo, usa barrete vermelho na cabeça. Vem do folclore para fazer companhia na busca pela cultura brasileira… Entre as personagens que eles encontram estão a Cuca e o Boitatá.

A Chave do Tamanho: As notícias sobre a Segunda Guerra Mundial chegam ao Sítio pelo rádio e entristecem Dona Benta e toda a turma do Sítio do Picapau Amarelo. Emília, a protagonista desta história, resolve sair em uma aventura para acabar com as batalhas e acaba por fazer todos diminuírem de tamanho.

Serões de Dona Benta: A avó usa acontecimentos do dia a dia para falar sobre ciências com as crianças. Entra um pouco de tudo… geologia, física, geografia… As perguntas e as observações engraçadas de Emília ajudam na construção do conhecimento.

Viagem ao Céu: A matéria agora é Astronomia! As crianças se divertem no espaço – dos anéis de Saturno à cauda um cometa – e Tia Nástácia, no mundo da Lua, cozinha para… São Jorge, em pessoa!

Títulos da literatura infantil de Monteiro Lobato:

1 – Reinações de Narizinho

2 – Viagem ao céu e O Saci

3 – Caçadas de Pedrinho e Hans Staden

4 – História do mundo para as crianças

5 – Memórias da Emília e Peter Pan

6 – Emília no país da gramática e Aritmética da Emília

7 – Geografia de Dona Benta

8 – Serões de Dona Benta e História das invenções

9 – D. Quixote das crianças

10 – O poço do Visconde

11 – Histórias de tia Nastácia

12 – O Picapau Amarelo e A reforma da natureza

13 – O Minotauro

14 – A chave do tamanho

15 – Fábulas

16 – Os doze trabalhos de Hércules (1º tomo)

17 – Os doze trabalhos de Hércules (2º tomo)

Fonte: GCN

Conheça mais Marcia Camargos

Escritora com pós-doutorado em História pela USP, ela tem 30 livros publicados, entre ensaios, biografias, romances e infanto-juvenis. Foi co-autora de Monteiro Lobato em “Furacão da Botocúndia”, obra que lhe rendeu prêmio Jabuti e Livro do Ano pela CBL em 1998, e escreveu também “À mesa com Monteiro Lobato”, em 2008, e “

Juca e Joyce: memórias da neta de Monteiro Lobato”, em 2007. Curadora das suas “Obras Completas”, relançadas pela Editora Globo, em 2007, mudou-se para a França em 2016, onde passou a preparar um segundo pós-doutorado na Sorbonne, sobre os modernistas em Paris nos anos 1920.

Você sabe como surgiu a Semana Monteiro Lobato?

A Semana Monteiro Lobato é um evento que aconteceu pela primeira vez entre 11 e 18 de abril de 1953, em Taubaté.  Ela surgiu com o objetivo de resgatar a importância do escritor taubateano e sua contribuição única para a formação de um pensamento genuinamente brasileiro. 

Para atingir esse objetivo, os organizadores procuraram evitar debates e estudos que abordassem um tema espinhoso: a conturbada relação de Monteiro Lobato com Taubaté,  sua terra natal, assunto muito polêmico na cidade e causador de prejuízos à memória do escritor. Durante anos, foram “fabricadas” dezenas de mitos injuriosos, quase todos girando em torno de um suposto desprezo de Lobato com a gente de Taubaté. Como resultado, até aquele momento, todas as tentativas de envolver a cidade em homenagens ao já consagrado escritor resultaram em retumbantes fracassos.


Esse rancor doméstico teria se “oficializado” em 1922, logo depois do lançamento de “Cidades Mortas”, livro que traça um perfil não muito simpático de um decadente Vale do Paraíba nos primeiros anos do século XX.


Em Taubaté, a reação contra o livro de Lobato partiu de um vereador, Luís Câmara Leal, que em uma sessão da Câmara Municipal, subiu à tribuna como porta-voz de uma ressentida e indignada “elite” da cidade, que dizia se sentir traída pelo escritor. Eles acreditavam que, principalmente, por ser o neto do outrora poderoso Visconde de Tremembé (falecido em 1911) e por viver até poucos anos sob a sua sombra, Lobato não poderia e não tinha o direito de expor com tanta crueza a realidade retrógrada que na época o Vale vivia. 


Durante anos e sem sucesso, os jacarés (apelido dos super amigos de Lobato) Cesídio Ambrogi (1893-1974), Gentil de Camargo (1900-1983) e Urbano Pereira (1902-1968) tentaram mudar esses conceitos, sempre ressaltando que a importância do escritor era muito maior do que as picuinhas regionais. 


A ideia de realizar uma Semana Monteiro Lobato surgiu de Gentil de Camargo em 1952: “Fui convidado para fazer uma palestra sobre Euclides da Cunha, cuja semana estava sendo festejada em Taubaté. (…) E terminada a conferência no Rotary Club, então eu fiz essa pergunta: se uma cidade, que não é o berço natal de Euclides da Cunha, onde ele não redigiu ‘Os Sertões ‘, instituiu a existência da semana de Euclides da Cunha, então porque Taubaté, berço natal de Monteiro Lobato, não realiza uma semana para homenageá-lo? Lanço essa ideia na terra fértil desse clube”.(Texto adaptado do Almanaque Urupês)


Hoje, o evento já atingiu projeção nacional e conta com palestras, exposições artísticas, oficinas pedagógicas, concursos literários, contação de histórias, música, dança e teatro! 
E você, já conhecia o evento ou sabia da história dele?  Aproveite para conferir a programação SML 2021 CLIQUE AQUI

WORKSHOP ONLINE – MONTEIRO LOBATO

WORKSHOP ONLINE – MONTEIRO LOBATO

Estão abertas as inscrições para o workshop online "Monteiro Lobato: por que e como ler Lobato com as crianças de hoje?", uma parceria do Instituto Quindim com a Casa de Histórias Sônia Travassos. Em dois encontros virtuais, o objetivo é discutir aspectos da obra infantil de Lobato, mostrando porque seus livros são um marco na literatura para crianças no Brasil e se tornaram clássicos. 

As obras podem ser compartilhadas com as crianças de hoje? O que favorece e o que dificulta a leitura da obra lobatiana? Qual o lugar do professor como importante mediador?

@soniamariatravassos é doutora e mestre em Educação (UFRJ), especialista em Literatura Infantil e Juvenil (UFRJ), mediadora de leitura, escritora  e contadora de histórias. Idealizadora da Casa de Histórias Sônia Travassos (@casadehistorias.st), espaço virtual para a divulgação da literatura infantil e para a formação continuada de professores.

INSCREVA-SE NO LINK DA BIO: @institutodeleituraquindim e da @casadehistorias.st@gmail.com  será

AULAS: aos sábados, dias 17 e 24 de abril, das 09h às 12h.

INVESTIMENTO: 
R$ 180 (conveniados, ex-alunos do Instituto Quindim e da Casa de Histórias pagam R$ 150; o desconto deve ser solicitado pelo e-mail institutodeleituraquindim@gmail.com)

PAGAMENTO: boleto, Pix, transferência bancária, cartão de crédito e débito.
 

Você sabia que a Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato é a mais antiga biblioteca infantil do país?

Oi, gente! Vocês sabiam que hoje, dia 09 de abril, é celebrado o Dia da Biblioteca?! Ele é um dia muito importante para a cultura, para o livro, a leitura e as bibliotecas brasileiras! Além de incentivar a leitura e o interesse pela cultura, é importante para refletir o quanto é necessário um espaço destinado à leitura.

O Brasil tem mais de 7 mil bibliotecas e apesar de parecer um número alto, o país possui apenas uma biblioteca para cada 30 mil habitantes. O índice de leitura dos brasileiros também não é muito positivo:  44% dos brasileiros não têm o hábito de ler e ao menos 30% nunca nem compraram um livro!

Mas ainda bem que mesmo diante desse cenário, muitas bibliotecas estão buscando se reinventar e atrair mais usuários criando experiências únicas no universo literário, e sem contar com a tecnologia dos acervos digitais, que viabilizam o acesso à leitura sem precisar sair de casa.

Visitar novos espaços culturais é muito importante para aumentar o nosso conhecimento e estimular a criatividade. Inclusive, em São Paulo, você pode embarcar em uma viagem literária e conhecer as histórias lúdicas de Monteiro Lobato de pertinho.

A Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, localizada na Vila Buarque no Centro de SP, tem entrada gratuita e conta com um acervo de mais de 90 mil itens voltados à literatura infantil. É a mais antiga biblioteca infantil do país!

Ela foi inaugurada pelo escritor Mário de Andrade em 1936 e levou o nome do autor em seu nome de batismo até 1955, mas passou a se chamar Biblioteca Infantil Municipal Monteiro Lobato em homenagem ao pai da literatura infantil. ❤️

Em razão da pandemia do coronavírus, os espaços culturais seguem temporariamente fechados, mas não deixe de incluir essa visita incrível na sua programação pós-pandemia, hein?

No site e no blog oficial monteirolobato.com, você encontra materiais exclusivos, como linha do tempo, fotografias, ilustrações, artigos sobre personagens, e consulta de bibliografia. Não deixe de acompanhar semanalmente nossos conteúdos exclusivos.

‘Vossa Rinocerôncia perdeu um tempo precioso’. Por Maria Helena RR de Sousa

AUTOR: MARIA  HELENA RR DE SOUSA

DATA: NOVEMBRO DE 2020

FONTE: CHUMBO GORDO

CRÉDITOS: https://www.chumbogordo.com.br/34184-vossa-rinoceroncia-perdeu-um-tempo-precioso-por-maria-helena-rr-de-sousa/

Na ânsia de encontrar provas do racismo em Monteiro Lobato e varrer das prateleiras de nossas crianças esse escritor perigosíssimo que fez gerações e gerações aprenderem a gostar de ler e pensar, os que não têm mais nada a fazer no MEC se esqueceram do segundo capítulo de Caçadas de Pedrinho: “Um Rinoceronte Interna-se Nas Matas Brasileiras”.

É fácil de explicar. Muito mais contundente que o conjecturado racismo em Caçadas de Pedrinho, o que Monteiro Lobato ensina à meninada, em uma crítica  irônica, ferina, é o quanto a burocracia cega é prejudicial à eficiência dos governos em geral. E acharam melhor não chamar a atenção sobre esse detalhe…

Como disse a Emília ao funcionário do “Departamento Nacional de Caça ao Rinoceronte”: “Mas por que não discutiu isso durante a semana em que o rinoceronte andou sumido e a passagem pela porteira esteve completamente franca? Acho que Vossa Rinocerôncia perdeu um tempo precioso”.

A imposição obrigatória de um mesmo e único exame a todos os concluintes do Ensino Médio induz toda a Educação Básica do país a uma perspectiva cada vez mais padronizadora, inibindo inovações. A médio prazo, a tendência é uniformizante e empobrecedora para o sistema de ensino, pensa a Emília, rainha das implicantes.

Nós precisamos de mais escolas e mais professores, mas o inacreditável exemplo de amor à Pátria dos assessores de Vossa Rinocerência já nos indicou o caminho certo. Vamos abrir primeiro outro caminho, o Enem seriado que será chamado de Saab.

Nele, as provas dos alunos do ensino médio formarão uma nota a partir da pontuação adquirida em cada uma das três séries, que poderá ser utilizada para acesso ao ensino superior. Os estudantes que fizerem a prova da 1ª série em 2021 já estarão concorrendo a vagas nas universidades para quando concluírem o ensino médio, em 2023. Que tal?

Não é por nada que a Emília chama o MEC de Quindim. Lá Vossa Rinocerôncia se encontra com seus bravos assessores e dá ensejo à glória de nosso ensino e de nossos mestres. São poucas aulas, mas são muitas provas!

É muita dedicação, não é não?

Monteiro Lobato, um criador de respeito

FONTE E CRÉDITOS: https://www.construirnoticias.com.br/monteiro-lobato-um-criador-de-respeito/

Lendo e aprendendo

Monteiro Lobato é apontado como o autor que mais escreveu para crianças em todo o mundo, sendo a sua obra considerada a mais extensa de literatura infantil de que se tem notícia. Bateu recordes de vendagem, atingindo entre 1925 e 1950 um milhão e meio de exemplares vendidos de seus livros.

No dia 04 de julho de 2003, fará 54 anos que Monteiro Lobato morreu. Nascido em Taubaté, São Paulo, em 18 de abril de 1882. Aos 9 anos resolveu mudar seu nome para José Bento Monteiro Lobato, pois desejava usar a bengala do pai, gravada com as iniciais J. B. M. L.

Na infância, viveu num universo propício para desenvolvimento de suas histórias. Era chamado de Juca, por suas irmãs Judite e Esther, e gostava de fazer bichos de chuchu com palitos nas pernas. Era um hábito, naquele tempo, as crianças brincarem com sabugos de milho que se transformavam em bonecos. "Por isso, cada um de meus personagens – Pedrinho, Narizinho, Emília e Visconde – representa um pouco do que fui e um pouco do que não pude ser", escreveu.

Aos 14 anos, escreveu sua primeira crônica para o jornal O Guarani. "Sempre amei a leitura. Li Carlos Magno, Robinson Crusoé e todo o Júlio Verne", registrou.

Nas pequenas cidades do interior, escreveu para jornais e revista. Quando seu avô, Visconde de Tremembé, morreu, em 1911, herdou dele a fazenda Buquira, passando de promotor a fazendeiro. Foi na fazenda que escreveu o Jeca Tatu, símbolo nacional.

Para viabilizar a edição de seus livros para adultos, comprou a Revista do Brasil. Urupês iniciou o processo editorial de Lobato. Antes de criar a primeira editora nacional, Monteiro Lobato & Cia, os livros do Brasil eram impressos em Portugal.

Tentou novos métodos de comercialização do livro. Importou máquinas para imprimir no país obras de autores brasileiros. Foi obrigado a desfazer-se da editora e gráfica por ele fundada e que deu origem à Companhia Editora Nacional.

Participou de campanhas contra o que ele mesmo chamou de escândalo do ferro e do petróleo, que lhe custaram a prisão e o exílio. Seus dois filhos homens morreram jovens.

Empresário falhado e escritor bem sucedido, fundou, em 1946, a Editora Brasiliense, para editar suas obras completas.

Pouco antes de morrer, declarou em sua última entrevista, à Rádio Record de São Paulo, que gostaria de ter escrito mais para as crianças, em vez de perder tempo escrevendo para "gente grande".

"Quiseram me levar para a Academia Brasileira de Letras. Recusei. Não quis transigir com a praxe de lá – implorar votos.

Tive muitos convites para cargos oficiais de grande importância. Recusei a todos. Getúlio Vargas (presidente do Brasil na ocasião) convocou-me para ser o Ministro da Propaganda. Respondi que a melhor propaganda para o Brasil, no Exterior, era a liberdade do povo, a constitucionalização do país.

Minha fama de propagandista decorria da minha absoluta convicção pessoal. O caso do petróleo, por exemplo, e do ferro. Éramos ricos em energia hidráulica e minérios, e não somente café e açúcar. Durante 10 anos, gritei essas verdades. Fui sabotado e incompreendido.

Dediquei-me à Literatura Infantil já em 1921. E, retornei a ela, anos depois, desgostoso dos adultos. Com Narizinho Arrebitado, lancei o Sítio do Pica-pau Amarelo. O Sítio é um reino de liberdade e encantamento. Muitos já o classificaram de República.

Eu mesmo, por intermédio de um personagem, o Rei Carol, da Romênia, no livro A Reforma da Natureza, disse ser o Sítio uma República. Não; República não é, e sim um reino. Um reino cuja rainha é a D. Benta. Uma rainha democrática, que reina pouco. Uma rainha que permite liberdade absoluta aos seus súditos. Súditos que também governam. Um deles, Emília, é voluntariosa, teimosa, renitente e não renuncia aos seus desejos e projetos.

Mas eu precisava de instrumentos idôneos para que o trânsito do mundo real para o fantástico fosse possível, pois, como ir à Grécia? Como ir à lua? Como alcançar os anéis de Saturno? Bem, a lógica das coisas impunha a existência desse instrumento. Primeiro surgiu o "O Pó de Pirlimpimpim" que transportaria para todo e sempre, os personagens de um lugar para outro, vencendo o 'ESPAÇO'. O 'FAZ-DE-CONTA', pó número 2, venceria a barreira do 'TEMPO', suprindo as impossibilidades de acontecimentos. Finalmente pensei no 'SUPER-PÓ', inventado pelo Visconde de Sabugosa, em O Minotauro, que transportaria, num átimo, para qualquer lugar indeterminado, desde que desejado."